Pai compra-me aquela caneta. Aquela ali, vês? Da pantera cor-se-rosa.Aquelas canetas fazem a letra mais bonita pai. Compras?
O pai tinha o cabelo castanho e segurava-me pela mão.
Naquela altura o mundo parecia maior, as aldeias pareciam vilas e as vilas pareciam cidades.
As montras das lojas a janela de um mundo de fantasia. E o pai comprou-me a caneta da pantera cor-de-rosa que fazia a letra mais bonita.
Levei-a para a escola e mostrei-a ao Vasco. O Vasco tinha o cabelo loiro e os olhos azuis. Quase não se viam os pêlos dos braços e das pernas. Era um menino de Lisboa que vivia com os avós na aldeia, vizinhos da minha tia. Eu gostava do Vasco e sonhava casar com ele. Almocei muitas vezes na casa dos avós do Vasco. Pedíamos sempre para a avó fazer ovo com batatas fritas. Lembro-me da boca do Vasco toda amarela porque molhava as batatas fritas no ovo e comia sem desviar o olhar do prato. E eu não desviava o olhar do Vasco.
A preparação da festa de final de ano era sempre uma azáfama.
Coube-me a mim a apresentação da festa. A mim, uma menina tímida , com sardas no nariz, que corava por tudo e por nada. Ainda hoje.
Acho que a professora gostava de mim. Eu imitava-a quando escrevia no pequeno quadro que tinha lá em casa. Fazia contas e explicava, explicava...Marcava certos na lista telefónica, até que houve um dia que a minha mãe não achou muita piada. A minha mãe. Custa-me sempre falar da minha mãe. Amo-a tanto.
Ainda me lembro mãe, das fitas que me compravas para o cabelo, uma de cada cor, naquela retrosaria que já fechou. A proprietária continua solteira.
Ensaiava na casa da professora. Ela tinha sempre um lanche para nós. Houve um dia que lhe confidenciei que achava melhor ela escolher outra pessoa. Ela sorriu e passou-me a mão pelo cabelo. Não respondeu. Continuei os ensaios.
A festa correu bem e lá estavam eles a aplaudir na fila da frente. O homem que me comprou a caneta da pantera cor-se-rosa que fazia a letra mais bonita e a mulher que me comprava as fitas para o cabelo.
Tenho vindo a aprender que a escrita, para além do treino, exige disciplina.
Saramago era disciplinado, já eu terei que acrescentar um prefixo à palavra para me adjectivar.
Tenho vindo a aprender que o medo bloqueia e não deixa expandir. Tenho medo de ter medo.
Dar o primeiro passo é sempre difícil, para tudo. O segundo impulsionado pelo primeiro é desafiador. E os restantes são meramente calculados ou inconsequentemente dados.
Pois bem, encontro-me prestes a dar o primeiro passo. Como a criança que está prestes a balbuciar a primeira palavra. Expectantes os que esperam, a mim e à criança.
Esta é apenas uma crónica de sábado à tarde, repito, uma crónica de sábado à tarde, escrita por alguém que trocou uma sesta pela escrita e nada mais do que isso.
Tenho vindo a acordar com olheiras e isso preocupa-me. Quando era mais nova achava que ter olheiras era o máximo, dava um ar maduro e vivido. Não percebo porque tenho olheiras.
O café foi tomado no sítio do costume. Gosto dos proprietários. Sabem que eu gosto de torradas com azeite e que o croissant é só com queijo, sem manteiga. Não sabem o meu nome, cativam o meu sorriso.
Gosto do café dos sábados de manhã aqui. Gosto da mistura de gentes e olhares. Do cheiro das torradas e do café. Do cochichar das duas mulheres sentadas na mesa do canto, da satisfação do homem diabético que come o seu bolo sem sentimentos de culpa. Da criança que aponta para a vitrine na esperança que a mãe lhe compre o sumo energético que é colorido e apelativo.
O dia está quente e não corre o vento que gosto de sentir quando o cabelo está molhado e me permite sentir o cheiro a ervas do champô.
Comprei um livro. Li algumas crónicas enquanto o H. fazia o almoço, bife de perú com caril, leite de côco e maçã. O H. fá-lo muito bem. Escolhi um vinho verde para acompanhar.
Sinto a entrada do álcool no sangue e começo a divagar. Os olhos brilham e sonham. E sinto que de tão pouco se pode construir a felicidade.
Aqui estou eu...numa formação! Para muitos formação não é compatível com férias. Para mim também não era... Mas neste momento esta é a prioridade. Até ao momento ainda não acrescentou nada ao meu conhecimento...tenho esperança!! Ao menos travo conhecimentos... São os contactos meus caros amigos...os contactos...
Foto: Elisabete Zambujeira do Mar
GOOD MORNING VIETNAM
Hoje o meu acordar foi assim! Resigno-me... Detesto que me acordem !!! Consequência: má disposição
quarta-feira, 20 de julho de 2011
A propósito do filme "Little Ashes"...
Estupefacta com a suposta relação amorosa entre o pintor Salvador Dalí e o poeta Federico García Lorca!!!
Ode to Salvador Dali ( excerto)
But above all I sing a common thought that joins us in the dark and golden hours. The light that blinds our eyes is not art. Rather it is love, friendship, crossed swords.