Eis que acabo de chegar do cinema. Pois que hoje me deu uma vontade daquelas de me sentar numa sala cheia de desconhecidos com um pacote gigantone de pipocas e ser absorvida por uma história que me transportasse da minha realidadezinha.
Filme escolhido: Black Swan. Pois que devia ser das poucas criaturas que ainda não tinha visto...Shame on me!!Fui à matiné...gosto desta palavra "matiné". Pois que às segundas feiras há menos gente, o bilhete é consideravelmente mais barato e a malta tem que aproveitar estas beneces!! Aí vou eu...expectante...sala 1 ....ups...deve haver algum engano( pensei) pois que constatei que estava num convívio do Inatel. A sala estava cheia de pessoas com cabelos brancos e penteados estranhos, caracóis vá!! Fila H , lugar 9. Sozinha na fila.A meio do filme agradeci por ter ficado sozinha na fila, porque dado o teor de algumas cenas iria sentir-me muito constrangida com um septuagenário a meu lado!! Mas, acerca do filme, é mais do que um tributo ao mundo do bailado, é psicologicamente intenso e interessante. A interpretação de Natalie Portman é arrebatadora, quase que se chega a sentir o que ela sente em determinados momentos do filme. Só tenho pena que não tenha havido um maior envolvimento físico com Vincent Cassel, é que o senhor tem um olhar...que vale a pena ver o filme de novo!!
Curiosidade lacónica de sentir, O desejo breve do irreal. Numa lisa cadência nua e fingida, Enrolam-se vestidos de subtis perfumes, Tecido de fino junco Em aroma de pele que encanta. Pensa encanto e escreve afagos O poeta na sua sabedoria Busca de instinto num ensejo a encontrar. Ai poeta que vives a aparência Numa curiosa tendência a que chamas poesia!
" Um sentimento também é uma ideia, mas descontrolada, e eu fico deslumbrado com o tamanho deste facto que existe dentro de mim."
José Luís Peixoto
Foto:José de Almeida e Maria Flores olhares.aeiou.pt
" Ninguém nos traz um sonho feito e no-lo oferece. Para tudo, o acesso pleno e seguro é feito apenas pelo que somos, pela firmeza com que assumimos o que nos é verdadeiramente importante, como as pessoas que por amor nos rodeiam."
valter hugo mãe
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Arrancou a época oficial de caminhadas no paredão.
até quando eu não sei que me importa o que serei quero é viver
Amanhã, espero sempre um amanhã e acredito que será mais um prazer
e a vida é sempre uma curiosidade que me desperta com a idade interessa-me o que está para vir a vida em mim é sempre uma certeza que nasce da minha riqueza do meu prazer em descobrir
encontrar, renovar, vou fugir ou repetir
vou viver, até quando, eu não sei que me importa o que serei quero é viver amanhã, espero sempre um amanhã e acredito que será mais um prazer
a vida é sempre uma curiosidade que me desperta com idade interessa-me o que está para vir a vida, em mim é sempre uma certeza que nasce da minha riqueza do meu prazer em descobrir
encontrar, renovar vou fugir ou repetir
vou viver até quando eu não sei que me importa o que serei quero é viver, amanhã, espero sempre um amanhã e acredito que será mais um prazer
“Num qualquer sólido platónico desenho andanças de pórticos abertos a voos que me abrem os abraços, fusão exacta de formas eternas.
Páro este gesto e penso!...que me importam todas as matemáticas ou físicas que me tentam vender, como algo concreto? Todos os axiomas se desnudam de números simbólicos...e eu detesto números! Todos os cloretos são imagens obscuras, que me desviam o olhar, sem sódio a declarar.
Deixem-me antes os sonhos reais ou irreais, tanto me faz, mas que são a soma da minha existência, janela voltada às marés dos meus abraços, onde emerjo cada gesto, verdade da minha existência.”
prenuncia: logo existe o meu espaço. Eu toco então aquele rosto este rosto aquele rosto conheço as mãos no corpo no rosto o toque desfasado toque na quase intimidade do olhar o beijo.
Hoje acabo o desenho das letras desenho rosto pronuncio-o e tu és lá roço nele até à precisão do t mas o que fica é esta preparação para o beijo que a vogal me coloca.
Digo o teu nome os dentes tocam o lábio inferior e aí começo a saborear-te toda a boca te trabalha um som nasal ressoa no crânio mexe-me.
Iam os dois pela rua, de mãos dadas. Dir-se-ia que não pisavam o chão. Dir-se-ia que deslizavam, que vogavam, que voavam. A felicidade estava-lhes cunhada nos rostos; e também nos gestos, nos sorrisos, no olhar. Iam de mãos dadas pela rua e iam muito felizes.
Ela tinha os cabelos longos e soltos, o tronco alto. Os seios puxados para a frente, as pernas esbeltas e livres, saias curtas. Ele era um pouco mais alto, um pouco apenas, camisa aberta, calças de ganga, uma pequena mala, daquelas malas dos antigos guarda-freios da Carris, a tiracolo. Isso: a mala estava a tiracolo, e eles iam muito felizes, os dois, de mãos dadas.
Nem sequer reparavam que muitas pessoas os observavam. Algumas pessoas com a conivência de um sorriso. Outras pessoas com um ressaibo de inveja, no olhar de esguelha. Pararam um pouco em frente à Pastelaria Suíça, no Rossio, ele disse qualquer coisa a ela, ela encolheu os ombros. Não deixavam de sorrir enquanto conversavam. Depois entraram e beberam café.
A esplanada da Suíça estava cheia de sol e de estrangeiros. Um vendedor de lotaria ofereceu jogo. Um rapaz sujo pediu algum dinheiro. Dois homens encontraram-se e abraçaram-se com efusão. Uma mulher apressada deu um encontrão num cego. Um cigano tentava vender relógios. Um polícia contemplava as coisas com evidente indiferença.
O rapaz e a rapariga decidiram, depois de tomar café, passear pelo Rossio. Estavam muito felizes. E é bom que se repita isto, porque as pessoas, habitualmente, andam para aí cheias de infelicidade, ao menos que haja alguém feliz, mesmo que seja uma ou duas pessoas.
Passeavam pelo Rossio e, de vez em quando, davam beijos, sempre sorrindo um para o outro, como se estivessem a sorrir para todo o mundo, e todo o mundo experimentava uma grande sensação de espanto e de júbilo. Paravam junto às montras do Rossio, olhavam, claro, mas não fixavam nada do que nas montras se expunha, só sabiam um do outro, só estavam ali juntos para apenas estar um com o outro, juntos e assim mesmo: de mãos dadas e aos beijos.
Foi numa dessas ocasiões. Beijavam-se tão felizes, tão um do outro, que essa felicidade molestou uma senhora obesa e flácida. A senhora obesa e flácida estacou, indignada, a fuzilá-los com as balas do ódio. E gritou:
— Não podiam fazer isso em casa?
A rapariga dos longos cabelos e seios puxados para a frente deixou o beijo a meio. O rapaz experimentou uma estranha sensação de pasmo. Olharam-se. E foi então que a rapariga respondeu, indicando tudo em derredor:
— Esta é a nossa casa!
Nesse instante trémulo, o mundo feliz, começou a aplaudir.
Baptista-Bastos, Lisboa contada pelos dedos (2001)
Quero-te, como se fosses a presa indiferente, a mais obscura das amantes. Quero o teu rosto de brancos cansaços, as tuas mãos que hesitam, cada uma das palavras que sem querer me deste. Quero que me lembres e esqueças como eu te lembro e esqueço: num fundo a preto e branco, despida como a neve matinal se despe da noite, fria, luminosa, voz incerta de rosa.
Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Primeiro como chocolate preto e depois bebo chá de camomila....hell yeah!
que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes.
Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.
Terminada a leitura do livro AImpossível Solidão de José Manuel Arrobas apraz-me dizer que tocou indiscritivelmente os quatro pontos cardeais das minhas sensações.