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Chão de Cenário Lounge

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terça-feira, 26 de julho de 2011

Tentativa de crónica de terça à tarde

Pai compra-me aquela caneta. Aquela ali, vês? Da pantera cor-se-rosa.Aquelas canetas fazem a letra mais bonita pai. Compras?
O pai tinha o cabelo castanho e segurava-me pela mão.
Naquela altura o mundo parecia maior, as aldeias pareciam vilas e as vilas pareciam cidades.
As montras das lojas a janela de um mundo de fantasia. E o pai comprou-me a caneta da pantera cor-de-rosa que fazia a letra mais bonita.
Levei-a para a escola e mostrei-a ao Vasco. O Vasco tinha o cabelo loiro e os olhos azuis. Quase não se viam os pêlos dos braços e das pernas. Era um menino de Lisboa que vivia com os avós na aldeia, vizinhos da minha tia. Eu gostava do Vasco e sonhava casar com ele. Almocei muitas vezes na casa dos avós do Vasco. Pedíamos sempre para a avó fazer ovo com batatas fritas. Lembro-me da boca do Vasco toda amarela porque molhava as batatas fritas no ovo e comia sem desviar o olhar do prato. E eu não desviava o olhar do Vasco.
A preparação da festa de final de ano era sempre uma azáfama.
Coube-me a mim a apresentação da festa. A mim, uma menina tímida , com sardas no nariz, que corava por tudo e por nada. Ainda hoje.
Acho que a professora gostava de mim. Eu imitava-a quando escrevia no pequeno quadro que tinha lá em casa. Fazia contas e explicava, explicava...Marcava certos na lista telefónica, até que houve um dia que a minha mãe não achou muita piada. A minha mãe. Custa-me sempre falar da minha mãe. Amo-a tanto.
Ainda me lembro mãe, das fitas que me compravas para o cabelo, uma de cada cor, naquela retrosaria que já fechou. A proprietária continua solteira.
Ensaiava na casa da professora. Ela tinha sempre um lanche para nós. Houve um dia que lhe confidenciei que achava melhor ela escolher outra pessoa. Ela sorriu e passou-me a mão pelo cabelo. Não respondeu. Continuei os ensaios.
A festa correu bem e lá estavam eles a aplaudir na fila da frente. O homem que me comprou a caneta da pantera cor-se-rosa que fazia a letra mais bonita e a mulher que me comprava as fitas para o cabelo.
É assim que os imagino sempre. Na fila da frente.





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