Repugnante incerteza Dilacerante proximidade, Quão distante Do real desejo. Ardente separação de almas Em corpos tão próximos... Vontade inalcançável De um toque profundo, Qual manjar espiritual, Embriagando lentamente Deixando-me em transe profundo... Todas as antenas ligadas Para captar tão pouco Que chega no entanto Tão delicioso. Prazer de um cérebro satisfeito, O inebriante estado De mais um passo dado Numa escada infindável! Íngreme de dor De vida, de ser Que se dá.
Egídio Piteira Santos in Sinto-te muito mais do que eu
Ficas melhor assim vestida de não, ficas mais quieta na minha memória. a solidão é deste modo: a coragem de escrever sozinho o final da nossa história. adiciono pontos finais ao final da nossa história: estás quieta na minha memória, os gestos sem cor, um enorme não cerceando a tua boca. estás também nua. aproximo-me de ti com o que de mais humano consigo invocar: ensina-me o final da nossa história! ficas mais quieta vestida de não, completamente nua na minha memória. onde se desenha a tua sombra recolho estes versos: quando traí a nossa história?
Uma coisa que me põe triste é que não exista o que não existe. (Se é que não existe, e isto é que existe!) Há tantas coisas bonitas que não há: coisas que não há, gente que não há, bichos que já houve e já não há, livros por ler, coisas por ver, feitos desfeitos, outros feitos por fazer, pessoas tão boas ainda por nascer e outras que morreram há tanto tempo! Tantas lembranças de que não me lembro, sítios que não sei, invenções que não invento, gente de vidro e de vento, países por achar, paisagens, plantas, jardins de ar, tudo o que eu nem posso imaginar porque se o imaginasse já existia embora num sítio onde só eu ia...
"Às vezes assusta-me este novo riso que tenho. Não que antes não risse, mas exactamente porque antes ria e este riso não ri. Apenas revérbero negro do que seria um sorriso se alguma alegria o tomasse. Só que não há alegria e o riso perpetua-se negro sob o céu pesado do olhar de outros que se perguntam e com razão: estará a ficar louco? Por mim nunca me coloquei a questão (é o olhar deles que me assusta). Nos dias a questão foi sempre outra: como sobreviver a esta dor sem pausa? Como atravessar este grito sem fim? É para ela que o riso é solução."
Dez, cem, mil. Vou revelá-las à noite. Quando a alma for câmara escura. Depois vou classificá-las: Segundo as folhas, os anéis dos troncos, Segundo as suas sombras. Ah, como as árvores Entram facilmente umas nas outras! Vejam, agora só me resta uma. É esta que vou fotografar outra vez E vou observar com assombro Que se parece comigo. Ontem só fotografei pedras. E a pedra afinal Parecia-se comigo. Anteontem - cadeiras - E a que resultou Parecia-se comigo. Todas as coisas se parecem terrivelmente Comigo... Tenho medo.
não desenroles tanto a noite em tua pele. não equipares ao corpo o tropel das palavras na toalha. não encalhes em mim tanta beleza. aperta a blusa. recolhe do meu rosto os teus olhares, alguma lágrima brilhando sobre a mesa.
sossega. é cedo ainda para o deserto trepidante do desejo. não julgues saber já que desenlaces o meu corpo procura sobre o teu. nem eu te ofereço o armadilhado morango do amor. apenas peço que adormeças, que dês lugar na cama ao meu fantasma.
coloca o coração numa órbita prudente. talvez não tarde o tempo,
o lugar onde eu te diga as palavras que desligam os alarmes que instalei em toda a alma.
"Estamos tão perto uns dos outros. Somos contemporâneos, podemos juntar-nos na mesma frase, conjugarmo-nos no mesmo verbo e, no entanto, carregamos um invisível que nos afasta...
...Repito para mim próprio: estamos tão perto uns dos outros. Não há nenhum motivo para acreditarmos que ganhamos se os outros perderem. Os outros não são outros porque levam muito daquilo que nos pertence e que só pode existir sendo levado por eles. Eles definem-nos tanto quanto nós os definimos a eles. Eles são nós. Eles somos nós. Se tivermos essa consciência, podemos usar todo o seu tamanho. Mesmo que pudéssemos existir sozinhos, de olhos fechados, com os ouvidos tapados, seríamos já bastante grandes, mas existe algo muito maior do que nós. Fazemos parte dessa imensidão. Somos essa imensidão que, vista daqui, parece infinita."
José Luís Peixoto, in revista Visão (Dezembro 2011)
Sou só eu ou vocês nestes dias lindos de sol também se sentem mais bonitos??? É que eu hoje tou que nem posso!!! BAH!! Shame on me!!!
Numa ilha ? Num determinado país? Num palco? Junto ao mar? No céu? Num jardim? Num parque de estacionamento de um shopping? Em casa de um amigo? No vosso local de trabalho?
Pois é!!! O objetivo deste post é pensarem nesse momento, onde, tal como eu, foram muito felizes!!!
A minha prima Carolina, de catorze anos, confessou-me com um olhar envergonhado que tinha dado o seu primeiro beijo. Não pude deixar de sorrir e ser cúmplice no olhar.
Não quis quebrar o encanto e a magia, mas gostava de lhe ter dito que o primeiro beijo nem sempre significa ser o primeiro. O primeiro beijo é aquele que é dado na pessoa certa, mesmo que não saibamos ou nem sequer imaginemos que é essa pessoa a certa. O primeiro beijo é aquele que não é esperado, é aquele que acontece depois do tocar de dois olhares que se desejam. O primeiro beijo é aquele que é roubado e deixa o outro sem respiração, porque o seu coração quase pára e deixa de bater e sente que é ali o seu lugar, naqueles lábios que sempre foram seus e que se uniram no momento em que o mundo deixou de existir.
O primeiro beijo pode acontecer muito, mas muito depois dos catorze anos...
Esta coisa de haver datas marcadas para sermos/estarmos felizes perturba-me um bocadinho!
A verdade é que Dezembro é um mês que me causa alguma ansiedade. Não só porque faço anos em Dezembro ( e eu não aprecio de todo o dia de aniversário) mas também porque é Natal e a logística que isso envolve deixa-me irritada e o meu mau feitio ( entenda-se por mau feitio apenas algum orgulho e teimosia atenção...) vem ao de cima!
Não escondo que muita "gente" me causa alguma confusão ( entenda-se por gente aquela que como eu já referi algures, sorri como o Paco Bandeira nesta época).
O Natal foi passado em família, mais propriamente na casa dos meus pais. Como sempre a minha mãe leva os dias na cozinha e às nove da manhã já cheira a assados...
O meu pai preocupa-se apenas com a escolha do vinho e com o aquecimento da casa...acho sempre que a felicidade que ele sente por estarmos ali não lhe deixa espaço para fazer mais alguma coisa...
O mais importante esteve lá, o amor que sentimos uns pelos outros e é isso que realmente importa!
Já a passagem para o ano 2012 foi passada, pela primeira vez, com os amigos, em Estremoz. Bah!!
Não sei se acontece com vocês, mas é naquele momento de comer as doze passas que me dou conta de quem realmente gosto e amo. Das pessoas que me fazem sentir feliz, que me aceitam como eu sou, que riem comigo, que me acompanham sempre, que me apoiam naquilo que eu faço, que se preocupam se eu estou bem, que exigem a minha presença, que sentem saudades minhas. Penso em todos, nos que estão comigo quase diariamente e naqueles que apesar de não estarem fisicamente estão no meu coração.
Não sou de fazer balanços e planos para o ano seguinte. Sou de viver o dia-a-dia. Gosto que a vida me surpreenda, me agite, pois só assim me sinto viva...