Tenho como ponto assente na minha vida que a felicidade não é um estado permanente. Existem momentos de felicidade únicos e intensos que não nos levam a pôr em causa que estamos a viver. Porque viver é isso, não saber que se vive...
E o que são estes momentos de felicidade para cada um de nós? Certamente o meu momento de felicidade não se compara em nada na dimensão ou na exigência de um momento de felicidade para outro. Mas é o meu. E se é, que eu posso caber nele inteira.
Ontem fui muito feliz naquele banco de cinema. Para alguns , foi só mais um filme. Para mim, foi o filme. A ficção tem destas coisas. Chegar a cada um de nós e tocar no ponto cardeal mais íntimo do nosso sentir.
E não foi Florbela, ou a Bela, que mais me tocou. Sobre ela nada me podia surpreender. Foi Apeles. Apeles Espanca, aquele que não soube o que era o amor. Aquele que o sonhava e que nunca o viveu. Não há coisa mais triste do que alguém que nunca viveu o seu amor.
Não consegui e nem consigo encontrar qualquer tipo de relacionamento incestuoso entre Bela e Apeles. Acho que mais do que uma irmã e confidente, foi uma mãe para ele. Uma relação demasiadamente profunda e pouco entendível para o comum mortal e criaturas sem alma.
Só um amante de Florbela e da sua obra teria feito algo tão singular como Vicente Alves do Ó, que deu o prazer ao público de estar presente. Ouvi-lo falar de Bela com o fascínio com que o faz é admirável. O seu encanto está todo lá!