Acordei assim ... de mal comigo. Tenho acordares assim...tenho vários acordares...
Há dias em que tenho um acordar preguiçoso, lento...outros em que salto da cama mal vejo o sol envergonhado a entrar pela janela, outros em que parece que renasci...
Hoje acordei bem disposta, relativamente bem disposta. Espreguicei-me...levantei-me...tomei um banho...vesti-me...e saí para beber um café.
Eu sou daquelas pessoas que não consegue começar o dia se não beber um café. Há quem fume um cigarro... eu bebo um café!
Sentei-me numa esplanada. Gosto de ficar ali a observar as pessoas.
Umas cruzam-se e dizem bom dia, outras cruzam-se e baixam as cabeças...outras não se chegam a cruzar.
Enquanto bebia o meu café desfolhava as páginas da revista Visão. Eu acho que não leio as revistas como as outras pessoas. Eu não começo na primeira página. Eu abro a revista, desfolheio, páro onde os meus olhos se fixam, leio, depois não continuo a ler na página seguinte, posso até voltar atrás, ou à última página da revista, enfim...
Leio a crónica de José Luís Peixoto “ Os errados”...fico a pensar...
Passo duas ou três páginas da revista e continuo a pensar no que li , volto atrás e leio novamente.
Olho para a ilustração...acho graça e até me dou ao trabalho de ver o nome do ilustrador.
Deixo aqui alguns excertos desta crónica.
“ Abandona a imoralidade de ser infalível e dá tamanho ao mundo inteiro, galáxias desgovernadas incluídas, lembranças e segredos incluídos. Saberás então que há poucas belezas mais extensas do que o propósito de uma ideia: a liberdade de estar rotundamente errado.”
“ Começa hoje a estar errado, começa agora.”
“ A imperfeição é muito mais bonita do que a perfeição porque a perfeição não existe. Ou, se existe, está ao lado do erro, faz parte dele. Se ainda estivéssemos nos princípios da espécie, poderíamos talvez acreditar em vidas certas e inteiras, mas acumulamos história, somamos milhares de anos, séculos a perder de vista, e tu tens o dia de hoje, tens este pedacinho de horas, esta coisa. Tens tanto. Engana-te de propósito a fazer contas. Falha o golo em frente à baliza. Despenteia-te. Escreve “ sapo” com cê de cedilha: çapo. E também “ sopa “ : çopa...
"...despede-te quando chegares e diz olá quando partires. Senta-te no chão. Veste a camisola ao contrário...”
“ Não tentas preservar o que tens porque sabes que não tens nada e podes ter sempre mais nada ainda. Quando deixas de fazer sentido, é porque foste capaz de encontrar um novo sentido e há muitas possibilidades que esse sentido esteja enfeitado de plantas necessariamente selvagens, onde a seiva corre desgovernada, feita de sol liquefeito, claridade liquefeita, incandescência tão limpa que cega."