Num galho de uma árvore em frente da janela um pássaro estremece como uma pálpebra. Percebe-se que vai chover por uma espécie de respiração húmida no ar, uma boca mais apressada que o costume, quase fria, sem cheiro. As casas perdem a cor, o vento remexe os canteiros com a mão distraída. Não bem vento: um sopro vago, sem rumo, a pensar em si mesmo. Sentado a esta mesa irei chover também?
António Lobo Antunes