"Somos as coisas que moram dentro de nós.
Por isso, há pessoas que são tão bonitas,
não pela cara, mas pela exuberância do seu mundo interno."
Rubem Alves
O meu amor não cabe num poema – há coisas assim, que não se rendem à geometria deste mundo; são como corpos desencontrados da sua arquitectura ou quartos que os gestos não preenchem.
O coração das estrelas Arde no peito do céu São biliões de velas Em ermidas e capelas Que alguem um dia acendeu Uns dizem que foi Deus Que acordou para ver as horas Numa noite de Janeiro E ligou um candeeiro De estrelas e auroras Ursas cisnes e leões Sírios centauros e dragões Fazem as constelações Outros dizem que a matéria Estava presa no nada E explodiu num big bang Espalhou-se como sangue E fez a noite constelada Mas há outra explicação Que não é menos exacta As estrelas são avós Vogando em trenós de prata Lá em cima a velar por nós
Talvez seja possível amar uma mulher por causa de um livro, de um poema sublinhado, de um filme a preto e branco, de uma casa, do olhar de um homem quando fala dela, da forma como o seu cão a espera. Da reprodução de um Mondrian na parede da sala.
Talvez seja possível amar um homem por causa de um livro, de um poema de Stevenson, «my house, they say», dos olhos de uma mulher quando fala dele, da forma como o seu cão o espera.
Ana Teresa Pereira
segunda-feira, 8 de julho de 2013
"Ela gosta do tango, do dengo, do mengo, domingo e de cócega..." Chico Buarque